Jony Ive, o homem que desenhou o futuro no alumínio da Apple, atravessa a fronteira do design e entra no coração da inteligência artificial. É como se Michelangelo tivesse largado o mármore e decidido esculpir algoritmos. O encontro com Sam Altman não é só um acordo de colaboração… é uma compra de 6,5 bilhões de dólares.
A OpenAI anunciou a aquisição da “io”, startup criada por Ive para desenvolver um dispositivo pessoal de inteligência artificial. Um pequeno assistente em formato de disco, quase um “puck”, que promete escapar da ditadura dos smartphones e oferecer acesso direto do usuário à OpenAI. Uma jogada ousada… afinal, a história é repleta de gadgets que morreram antes de nascer. Mas se der certo, pode redefinir a forma como interagimos com a inteligência artificial.
Ive não é um novato em revoluções. Ele desempenhou um papel central no design de produtos da Apple, do iPhone ao iMac e até na própria sede da empresa, o Apple Park. Depois de quase 30 anos, deixou a companhia em 2019 para fundar sua própria firma. É amplamente creditado por estabelecer a estética minimalista icônica da Apple e por ter ajudado a reviver a empresa no fim dos anos 1990. Ao se despedir, Tim Cook foi enfático… “seu papel no renascimento da Apple não pode ser superestimado”.
Durante décadas, convivemos com objetos que se tornaram extensões do nosso corpo. O iPhone não foi apenas um telefone, foi uma prótese social. O iMac não foi apenas um computador, foi um gesto estético que resgatou uma empresa da beira do abismo. Agora, a pergunta que ecoa é… o que acontece quando o arquiteto do objeto se encontra com o arquiteto da mente artificial?
Altman fala em reimaginar o computador, Ive fala em superar legados envelhecidos. No meio, o usuário, essa criatura faminta por novidades, mas já desconfiada de promessas. O Humane AI Pin tombou no cemitério dos gadgets, enquanto os óculos da Meta vendem milhões sem ninguém perceber o quão ridículos parecemos com eles no rosto. A corrida não é por telas maiores, mas por experiências invisíveis. Tecnologia que desaparece para dar lugar a algo mais essencial… a presença.
Talvez estejamos diante da mais ousada tentativa desde o iPhone. Mas há um risco: a beleza do design pode distrair da profundidade da ética. Quando a forma se une ao poder de prever, de sugerir, de influenciar… quem garante que não estaremos construindo uma nova prisão, só que mais elegante?
Jony Ive sempre acreditou que o design é uma promessa de futuro. Sam Altman acredita que a inteligência artificial é inevitável. O casamento dos dois pode ser o nascimento do “computador invisível”… ou a versão mais sofisticada da nossa dependência.
O que se anuncia não é apenas um produto… é um espelho do nosso desejo de controlar e ser controlado, de criar e ser criado. A pergunta que fica não é “o que virá depois do iPhone”… mas “quem seremos depois do próximo protótipo”.