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Quando arroz vira silício

A China decidiu transformar campos de arroz em campos de dados. Em Wuhu, uma ilha de 760 acres no rio Yangtzé está sendo redesenhada: saem os grãos, entram os servidores. O investimento soma 37 bilhões de dólares, espalhado em quatro data centers de gigantes como Huawei, China Telecom, China Mobile e China Unicom. A ideia é simples na teoria e ousada na prática: usar centros remotos para treinar modelos de linguagem e manter os hubs urbanos dedicados à inferência em tempo real, próximos do usuário final.

É uma resposta pragmática às restrições impostas pelos Estados Unidos, que cortaram o acesso chinês aos chips mais avançados da Nvidia, TSMC e Samsung. Diante da escassez, Pequim aposta em coordenação. Onde não há poder de fogo em hardware, cria-se inteligência de rede. O UB-Mesh, solução da Huawei, promete aumentar a eficiência de clusters conectados, distribuindo tarefas de treinamento como quem otimiza rotas de logística em tempo real.

Os números mostram a escala da ambição. Só em Wuhu, 15 empresas já fincaram pé. Guizhou abastece Guangzhou, Gansu alimenta Chengdu, e o país monta uma malha que transforma gargalos em rios de processamento. Não é apenas sobre chips, é sobre soberania de dados e independência tecnológica.

E o Brasil? O contraste é inevitável. Temos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com mais de 80% da eletricidade vinda de fontes renováveis. Temos dados abundantes, espalhados em registros públicos, empresas e instituições. Mas seguimos dependentes de nuvens estrangeiras para treinar e rodar modelos de IA. Enquanto a China transforma arrozais em data centers, nós ainda discutimos onde armazenar nossos dados, como regulamentar seu uso e quem de fato se beneficia deles.

A lição é clara. Não basta ter energia barata ou dados em volume. É preciso visão estratégica para criar hubs nacionais de inteligência, fomentar semicondutores, atrair capital e coordenar ecossistemas. Se não fizermos isso, o futuro da IA no Brasil será importado caro, distante e pouco competitivo.

Porque no jogo global da inteligência artificial, quem organiza a infraestrutura não apenas planta o futuro, mas colhe o poder.

Marco Marcelino

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