AUTENTICIDADE É O FIO QUE COSTURA TODA A TRAJETÓRIA DE BIA BOTTESI, LÍDER DE MARKETING DA META PARA AMÉRICA LATINA. COM PASSAGENS POR MARCAS GLOBAIS COMO RED BULL, NIKE E COCACOLA, A EXECUTIVA CONSTRUIU UMA CARREIRA MARCADA POR CORAGEM, EMPATIA E PROPÓSITO – VALORES QUE ELA LEVA CONSIGO DESDE OS TEMPOS DE INFÂNCIA NO INTERIOR PAULISTA
Hoje, à frente do marketing de uma das maiores empresas de tecnologia do mundo, Bia representa uma nova geração de líderes que combinam inteligência emocional, sensibilidade criativa e pensamento digital para transformar negócios e pessoas.
Entre Londres e São Paulo, maternidade e carreira, Bia consolidou uma visão de liderança centrada em escuta, colaboração e presença verdadeira. Para ela, resultados extraordinários só acontecem quando o time se sente seguro para experimentar e crescer. Na Meta, lidera uma estrutura em constante evolução – dinâmica, plural e orientada por dados – sem abrir mão do que considera essencial: a humanidade nas relações. Nesta conversa inspiradora, Bia Bottesi fala sobre sua trajetória, aprendizados e o futuro do marketing, onde tecnologia e propósito caminham lado a lado.
EMPRESÁRIO DIGITAL Onde você cresceu e como isso moldou seu estilo de liderança?
BIA BOTTESI Sou do interior: nasci em Campinas, mas passei grande parte da minha infância entre Barretos e Sorocaba, cidades onde meus avós moravam. Até hoje puxo, com orgulho, bastante o “R” por causa disso. Meus pais são engenheiros e também professores, e cresci observando neles não só a dedicação ao trabalho, mas também a importância da coletividade e do cuidado com os outros. Desde cedo, aprendi com o exemplo deles que conquistas nunca são individuais: são sempre fruto de colaboração, confiança e muita troca. Essa criação firme e amorosa moldou meu olhar como líder. Assim como meus pais faziam conosco, acredito que meu papel não é estar à frente, mas ao lado do time, criando condições para que cada pessoa floresça.
EMPRESÁRIO DIGITAL O que Londres te ensinou que nenhuma sala de reunião no Brasil conseguiu ensinar?
BIA BOTTESI Viver quase dois anos em Londres foi um divisor de águas. Cheguei recém-formada, ainda insegura, mas cheia de coragem. Foi um mergulho cultural e um exercício diário de humildade. Longe da minha rede de apoio e sem conseguir me comunicar da forma que gostaria por causa do idioma, precisei aprender a ouvir mais do que falar, a respeitar culturas diferentes e a encontrar conforto no desconforto. Lembro-me dos meus pais me apoiando muito e dizendo: “Se tudo der errado, amanhã você toma café da manhã com a gente”. Essa frase me deu força para seguir, sabendo que tinha um alicerce, mas também liberdade para arriscar e o suporte deles para correr atrás dos meus sonhos. É isso que levo para a liderança: não quero que meu time tenha certezas absolutas, mas sim coragem para experimentar, autonomia para criar e a humildade de reconhecer que não sabemos tudo e que podemos aprender com qualquer pessoa, em qualquer lugar.
EMPRESÁRIO DIGITAL Você é mãe, filha, amiga, líder, cuida da rotina da casa, entre milhares de outras coisas. Como consegue encaixar o autocuidado nessa equação?
BIA BOTTESI O autocuidado entrou na minha vida de um jeito muito mais prático do que glamouroso. Para mim, significa estar inteira para os meus filhos e família, e para o meu time e o trabalho. Levo a sério a analogia da “máscara de oxigênio” do avião: quando percebo que estou parando de respirar ou ficando sem fôlego, sei que é hora de pausar. Tenho duas frentes bem estabelecidas para cuidar de mim: esporte e autoconhecimento, com terapia como parte essencial desse processo. Às vezes, uma corrida curta no parque já me salva; em outras, pausar e olhar para dentro, para fortalecer ou curar algo, é o único caminho. Aprendi que, sem presença verdadeira, seja em casa ou no trabalho, não existe liderança sustentável. Não vou romantizar: é difícil. Tenho dois filhos pequenos e um papel profissional exigente. Por isso, autocuidado para mim também significa aprender a dizer não, respeitar meus limites e buscar equilíbrio no simples. Estar com minha família, rir com amigos, me desconectar quando preciso. Meu segredo não é equilibrar tudo o tempo todo, mas saber priorizar o que é mais importante em cada momento da minha vida.
EMPRESÁRIO DIGITAL Houve algum momento pessoal difícil que redefiniu seus caminhos ou fortaleceu sua visão de mundo?
BIA BOTTESI A volta da minha segunda licença-maternidade, em plena pandemia, coincidiu com o momento em que fui promovida na Meta e assumi novas responsabilidades. Foi um período intenso, de vulnerabilidade, algumas inseguranças e muita reinvenção. Nesse processo de retorno, precisei me fortalecer, focar nos meus valores como mãe, líder e mulher, pedir ajuda, confiar ainda mais no meu time e lembrar que não precisava carregar tudo sozinha no trabalho e fora dele. Aprendi que vulnerabilidade não é fraqueza, é força. Foi justamente essa experiência que consolidou em mim a crença de que liderar é, antes de tudo, humanizar relações. Entendi que ciclos pessoais e profissionais coexistem, e essa vivência me deu coragem para liderar de um jeito diferente – com mais empatia, escuta e humanidade – e venho carregando essas características de forma muito sólida desde então.
EMPRESÁRIO DIGITAL Qual foi o maior choque cultural ao sair de marcas físicas e migrar para o universo tech?
BIA BOTTESI Nas big techs tudo acontece em uma velocidade diferente, mais rápido, dinâmico e em constante beta. Quando algo dá certo, é rapidamente escalado; quando não dá, é descontinuado sem grandes apegos. Precisei desaprender a lógica de longos ciclos de planejamento e reaprender a tomar decisões rápidas e com muitos dados sendo analisados. Em empresas como Coca-Cola e Red Bull, o processo tende a ser mais estruturado e hierárquico. Na Meta, tudo é extremamente colaborativo, um projeto não tem um único dono, mas milhares. E isso exige abertura, confiança, colaboração e uma escuta ativa o tempo todo.
EMPRESÁRIO DIGITAL O que você levou da energia da Red Bull, da emoção da Nike e da conexão da Coca-Cola?
BIA BOTTESI Quando me perguntam em qual empresa mais gostei de trabalhar, costumo dizer que é como perguntar qual filho a gente ama mais – cada uma me deixou um presente. Da Red Bull, trouxe a ousadia de quebrar padrões e a coragem de ser diferente. Era um time jovem, cheio de energia, e aprendi que é possível, e necessário, ser feliz no trabalho. Da Nike, levei o poder do esporte de emocionar e unir pessoas. Sou esportista, e criar campanhas que falam de propósito, e não apenas de produto, foi transformador. Da Coca-Cola, herdei a capacidade de criar conexões verdadeiras em escala – transformar o global em local e o local em global. E foi lá também que me apaixonei ainda mais por liderar times grandes e diversos, aprendendo todos os dias com as pessoas ao meu redor.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como foi “desaprender para reaprender” no ambiente da Meta?
BIA BOTTESI Quando cheguei, em 2019, não havia uma área de marketing estruturada. Era literalmente começar do zero: montar time, definir processos, construir relacionamento com agências e com o mercado. Mas, mais do que construir, precisei me adaptar a uma cultura totalmente nova: rápida, orientada a dados, global e, ao mesmo tempo, profundamente local. A Meta me ensinou a desaprender certezas e a confiar no processo de testar e aprender.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como você enxerga a evolução do marketing nos últimos dez anos, e o que nunca muda?
BIA BOTTESI Nos últimos dez anos, vivemos uma verdadeira revolução: passamos de um modelo centrado em campanhas e grandes produções para um ecossistema vivo, digital e pautado por dados. Hoje, a tecnologia permite personalização em escala, uma capacidade de mensurar impacto e compreender comportamentos que antes eram inimagináveis. Mas o que nunca muda é o propósito, o porquê de fazermos marketing. O centro continua sendo as pessoas, os usuários e as histórias que tocam o coração. A tecnologia muda o meio, mas não o “porquê”. O que conecta uma marca a alguém ainda é a emoção, a verdade e a relevância cultural. Continuamos buscando o mesmo objetivo: gerar impacto real, inspirar, provocar e construir significado. No fim, a diferença entre uma boa campanha e uma grande campanha está justamente em equilibrar dados e sensibilidade, algoritmo e conversa. As ferramentas evoluíram, mas o que move o marketing continua sendo a criatividade – tanto no resultado quanto nos formatos.
EMPRESÁRIO DIGITAL Quais são suas dicas práticas para quem está começando a vender pelo Instagram e ainda tem receio de se expor?
BIA BOTTESI Minha principal dica é: comece antes de se sentir pronto. O medo de se expor nunca desaparece; a diferença está em fazer mesmo assim. As pessoas não buscam perfeição, buscam a verdade. Mais do que vender, é compartilhar algo em que você acredita. Se há propósito, o conteúdo ganha alma. O Instagram não é um palco, é uma praça: um espaço de troca, conversa e construção de comunidade. Errar e testar faz parte do processo. O que importa é estar presente de forma autêntica, ouvir, ajustar e seguir.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como é ser mulher em liderança numa big tech? Ainda dói? Ainda inspira?
BIA BOTTESI É um misto dos dois. Ainda vivemos em um mercado onde os espaços de decisão e cargos de liderança continuam sendo majoritariamente masculinos. Isso exige resiliência e coragem todos os dias. Mas também inspira, porque cada conquista abre caminho para outras mulheres. Liderar em uma big tech é carregar a responsabilidade de mostrar que coragem e humanidade não são opostos da performance; são justamente o que a sustentam.
EMPRESÁRIO DIGITAL Você participou de movimentos para potencializar carreiras de mulheres, foi reconhecida… Como vê seu papel nisso tudo?
BIA BOTTESI Falar sobre liderança e ajudar outras mulheres é o que mais me motiva hoje. Os prêmios e reconhecimentos são importantes, claro, mas o que realmente importa é usar esse espaço para abrir portas, criar redes de apoio e fortalecer a ideia de que nós, mulheres, podemos estar onde quisermos. Liderar, para mim, é inspirar outras pessoas a acreditarem que também podem ocupar esses lugares, sem abrir mão da própria essência, da vulnerabilidade e do afeto.
EMPRESÁRIO DIGITAL Como a IA está, de fato, mudando o marketing?
BIA BOTTESI A IA já mudou o marketing; ela está presente: da segmentação à mensuração, da personalização de conteúdo à criação de experiências. Trouxe uma eficiência e uma escala inéditas. Mas o verdadeiro diferencial não está apenas na tecnologia em si, e sim em como as marcas a utilizam sem perder humanidade. Uma IA sem propósito pode vir a ser só automação; uma IA com propósito e cuidado pode gerar conexão real. Acredito que o desafio e a beleza estão em usar o poder da tecnologia para amplificar a verdade das marcas.
EMPRESÁRIO DIGITAL De que forma o ecossistema das redes sociais pode ajudar empreendedores a crescer com estratégia?
BIA BOTTESI As redes democratizaram o marketing. Hoje, um pequeno empreendedor tem acesso às mesmas ferramentas que uma grande marca global. A diferença está em como usa: unir dados com criatividade, ouvir a comunidade, criar narrativas autênticas e transformar feedback em ação. A questão aqui não é orçamento, é intenção e estratégia. As redes são, acima de tudo, espaços de relacionamento – e quem entende isso, cresce de forma consistente.
EMPRESÁRIO DIGITAL Onde você aposta suas fichas para 2026? O que está no seu radar?
BIA BOTTESI Vejo o futuro do marketing em uma convergência poderosa entre autenticidade e tecnologia. A IA vai continuar evoluindo, mas as marcas que combinam dados com propósito, inovação com empatia e escala com personalização serão as que realmente irão se destacar. Também acredito no fortalecimento das comunidades digitais, cada vez mais nichadas e influentes; elas se tornarão o novo motor de construção de marca, reputação e negócios. E, por fim, vejo uma transformação profunda na liderança de marketing: menos controle e mais colaboração. O futuro pertencerá a líderes capazes de unir inteligência artificial com inteligência emocional.
EMPRESÁRIO DIGITAL Quando você olha para trás, o que mais te dá orgulho?
BIA BOTTESI São milhares de coisas, impossível me lembrar de todas. Mas, com certeza, começo falando de pessoas antes das marcas. Poder aprender, ajudar, construir, fortalecer e potencializar a carreira e as jornadas profissionais de tantas pessoas é o que mais me faz respirar feliz hoje. Ao longo dos meus 25 anos de carreira, aprendi com muitos líderes, e com alguns aprendi também o que não gostaria de levar adiante no meu próprio estilo de liderança. Passei por agências e grandes empresas, e hoje o que mais me enche de orgulho é saber que, de alguma forma, contribuo para transformar as histórias das pessoas que estão comigo. Por outro lado, dentro da Meta, ter ajudado a transformar apps em marcas amadas pelos brasileiros também é algo muito especial. Somos um time de marketing enxuto e apaixonado, que trabalha com foco, verdade e propósito em cada projeto que coloca na rua, e ver esse trabalho reverberar é profundamente gratificante.
EMPRESÁRIO DIGITAL Uma frase, uma crença ou uma história que te acompanha e que você gostaria que mais pessoas ouvissem?
BIA BOTTESI Recentemente escrevi um artigo, e em breve farei um TEDx sobre o tema, chamado “O ‘não’ tem um poder transformador”. Acredito profundamente nisso. Cada “não” que recebi ao longo da minha carreira me empurrou para caminhos de reinvenção, coragem e criatividade. É essa crença que me move e que espero que inspire outras pessoas a não desistirem de inovar, recomeçar e acreditar em si mesmas, mesmo quando o caminho parece incerto.