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A maré que nos empurra para frente

Tem gente que fala de inteligência artificial como quem comenta o tempo, olhando o céu e dizendo que talvez chova. Só que não estamos mais na fase do talvez. Estamos no meio de uma tempestade elétrica e luminosa que muda tudo ao mesmo tempo. Quando Ben Goertzel, um dos pais da ideia moderna de inteligência artificial geral, ou AGI, encarou a plateia do WebSummit e contou que esse assunto que hoje lota arena já foi conversa de gente excêntrica, trancada em laboratório, discutindo o futuro enquanto a humanidade seguia adiante sem dar bola.
Ele lembrou que, nos anos 70, IA era quase folclore acadêmico. Nos anos 2000, quem falava em máquinas pensando de forma ampla era visto como profeta meio deslocado. Hoje, basta perguntar em qualquer mesa de bar do mercado tech e a discussão já é sobre datas… 2026, 2027, 2029… quem dá mais. Sam Altman e Dario Amodei falam em três anos. Kurzweil falava em 2029. As previsões deixaram de ser ficção e viraram disputa de cronômetro.
E o ponto dele é simples, direto, quase desconfortável. Não sabemos se será 2027 ou 2032, mas isso é irrelevante diante da escala do tempo humano. É tudo amanhã. É tudo logo ali. Estamos prestes a criar um tipo de mente que não só aprende com seus dados, mas aprende a se reescrever, se melhorar, se ultrapassar. É a tal explosão de inteligência que I. J. Good teorizou em 1965… um salto ininterrupto de máquinas que se tornam levemente mais espertas, até se tornarem incomparavelmente mais espertas.
E no palco, entre exemplos e metáforas, veio a parte mais incômoda. Os LLMs que hoje parecem mágicos também são toscos. Não lembram direito, não constroem um mundo coerente, não raciocinam com a solidez que um AGI exige. São impressionantes e burros ao mesmo tempo. Parecem gênios com amnésia. E isso não é um problema insolúvel, é apenas metade do caminho. A outra metade está espalhada pela história da IA… lógica simbólica para raciocinar, algoritmos evolutivos para criar, arquiteturas híbridas para gerar algo que vá além da soma das partes.
É aí que entra o Hyperon, a plataforma que ele apresentou com brilho discreto nos olhos. Um jeito de colocar tudo para conversar no mesmo cérebro digital… redes neurais, lógica, evolução, memória estruturada… uma espécie de slot de expansão cognitiva. Não é teoria, ele disse. Está rodando. Está escalando. Está pronto para ser povoado por arquiteturas completas, quase como montar o órgão vital de um novo tipo de inteligência.
Só que a parte mais filosófica, mais urgente, veio no final. A pergunta não é só como vamos criar AGI. É para que estamos criando. E, principalmente, quem vai mandar nisso. Ele não fez rodeios. Se meia dúzia controlar a mente mais poderosa já construída, a história repete o pior de nós mesmos. Se um grupo iluminado centraliza, vira alvo de corrupção, força, captura. O risco é óbvio. A saída, para ele, é tão pragmática quanto poética… que a primeira superinteligência seja como a internet, aberta, descentralizada, de ninguém e de todos.
Por isso, blockchain… não como moda, mas como infraestrutura. Não como moeda, mas como base de uma mente distribuída que não responde a um dono. O ASI Chain nasce desse raciocínio. Executar processos de IA on chain, em escala global, com uma linguagem desenhada para isso… meta… rodando em milhares de máquinas, sem um centro de comando. Um organismo que é rede. Uma inteligência que é praça pública. Um sistema que não pode ser sequestrado.
O que está chegando não é só a próxima versão da tecnologia. É uma nova habilidade humana… criar outra espécie inteligente. E isso exige uma mistura improvável de coragem, humildade, engenharia e filosofia. Não dá para controlar, mas dá para enviesar para o bem. Não dá para garantir, mas dá para tentar.
A fala dele parecia um lembrete silencioso… não estamos mais discutindo se a maré vai subir. Ela já subiu. Agora é decidir se vamos nadar juntos ou entregar o oceano para poucos.
E talvez o maior desafio seja justamente esse, aceitar que o futuro não pede autorização. Ele só chega. E cabe a nós decidir se vamos participar da construção ou assumir o papel ingrato de espectadores de nossa própria história.

Marco Marcelino

Informação valiosa, 
no tempo certo

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