A próxima virada da Creator Economy está batendo na porta. No Web Summit Lisboa de 2025, Robby Yung da Animoca Brands, Rob Whitehead da MSquared e Sofia Tenreiro destrincharam um ponto que muita gente que cria conteúdo ainda não captou. Criamos tudo, mas não somos donos de quase nada.
Durante anos, o digital nos treinou a produzir em troca de alcance, likes e promessas. A lógica era simples. Você cria, eles monetizam. Você sobe o vídeo, eles sobem o faturamento. Era o jogo de sempre. Era o jogo de poucos.
Robby trouxe o diagnóstico com honestidade brutal. Os take rates (taxas cobradas pelas plataformas sobre o que o criador ganha) são altos demais. O Web3 não é moda nem fetiche tecnológico. É correção. É uma tentativa de devolver ao criador o direito mais básico. Possuir aquilo que cria.
Rob completou com a história de quando começou como criador no Second Life, um dos primeiros mundos virtuais, ganhando noventa e cinco por cento do que produzia. Corte para hoje. Jovens criadores no Roblox levam só vinte por cento enquanto a plataforma segura oitenta. É a economia da criatividade funcionando ao contrário.
E aí surge o mash, a ferramenta deles, que parece pequena mas anuncia um salto. Você aponta o celular, tira uma foto, transforma aquilo em um asset 3D (objeto tridimensional pronto para uso em jogos), e pode usar esse asset em qualquer game engine (mecanismo que constrói jogos), como Unity, Unreal ou Fortnite. E o mais poderoso é a consequência. Cada objeto criado entra num grande acervo colaborativo, como uma Wikipedia de 3D. Um cria a mesa, outro cria a cadeira, outro combina as duas e faz um apartamento. E cada camada dispara micro royalties (pagamentos automáticos) que voltam para quem contribuiu. É criador virando sócio do próprio trabalho.
Sofia puxou a linha da responsabilidade. Identidade, governança, segurança. Nada disso é tão complicado quanto parece. Hoje já se pode usar zero knowledge proofs (provas criptográficas que confirmam quem você é sem revelar seus dados pessoais) para controlar acesso e propriedade. A tecnologia existe. O que faltava era intenção.
E o mais curioso é que quem mais sofre não são os pequenos. São as marcas grandes. Empresas investindo milhões em experiências no Roblox e descobrindo que não podem ter login próprio, CRM próprio, dados próprios. Criaram um mundo dentro do terreno dos outros. É como abrir uma franquia e descobrir que o franqueado é você.
O ponto final é um chamado.
Se você cria conteúdo, está entrando em uma nova era. A era em que não basta ser visto. É preciso ser dono. Não basta criar. É preciso registrar, proteger, circular, rentabilizar.
O criador do futuro não é só produtor. É proprietário, arquiteto, sócio do próprio universo.
E quem entender isso agora vai construir não só audiência. Vai construir patrimônio.
O futuro pertence a quem cria, mas só prospera quem possui.