Um dos maiores erros que vejo em muitos líderes é acreditar que todas as respostas estão dentro de si mesmos. Essa crença, muitas vezes, nasce da própria trajetória: anos de experiência, conquistas acumuladas e o reconhecimento que acompanha posições de poder podem gerar a ilusão de autossuficiência. O líder começa a acreditar que o que já viveu é suficiente para responder a todos os desafios que virão.
Mas a realidade é que essa experiência, por mais rica que seja, ainda é limitada. Cada um de nós enxerga o mundo a partir de um conjunto restrito de referências — histórias pessoais, formações específicas, vivências que moldaram nosso olhar. Quando buscamos todas as soluções apenas nesse repertório interno, acabamos presos a padrões repetitivos, respondendo aos novos dilemas com as velhas fórmulas que, em algum momento, já não funcionam mais.
É aqui que entra a importância de ampliar o repertório. Liderar não é uma jornada de certezas solitárias, mas um exercício constante de expansão. O líder que compreende isso se abre para aprender de diferentes fontes, expõe-se a outros mundos, dialoga com o inesperado e, sobretudo, coloca-se como aprendiz diante da vida.
Repertório é vida vivida
Ampliar repertório não é apenas acumular informações. É viver de forma inteira, é se permitir à vida vivida. Significa estar 100% presente nas experiências que se apresentam — sem julgamentos imediatos, sem a ânsia de controlar tudo, mas com a abertura para perguntar: o que essa situação pode me ensinar?
Vida vivida é quando você viaja e, em vez de olhar o novo com os filtros do lugar de onde veio, se abre para sentir a cultura local em sua plenitude. É quando, numa reunião, você escuta de fato a opinião de alguém que pensa diferente de você, não para rebater, mas para compreender o que há de legítimo naquela visão. É quando, em vez de descartar um erro como fracasso, você se permite investigá-lo como aprendizado.
Esse estado de presença é um dos maiores segredos para a liderança que as organizações mais precisam. Porque é ele que nos dá a capacidade de ampliar o olhar, de conectar pontos distantes, de perceber o todo e não apenas a parte. Um repertório verdadeiro não se constrói apenas com livros, cursos ou dados. Ele se fortalece quando nos colocamos por inteiro nas experiências, extraindo delas novos sentidos.
Na prática, quanto mais repertório temos, maior é a nossa capacidade de encontrar terceiras vias para os desafios que enfrentamos.
Por isso, eu pergunto a você: como tem cuidado desse pilar no seu dia a dia? Quais são os limites do seu repertório hoje? Você tem buscado respostas apenas em si mesmo ou tem se aberto para novas vozes? De que forma você tem se permitido à vida vivida, estando realmente presente nas experiências que surgem, sem julgamentos, mas com abertura para aprender?
Pense em uma negociação difícil. Um líder que só acessa seu repertório técnico verá apenas duas opções: ganhar ou perder. Mas aquele que amplia suas referências, que busca paralelos em outros campos — talvez na arte, na filosofia, na psicologia, ou até em uma história de vida compartilhada em família — consegue encontrar alternativas que ninguém havia cogitado. Consegue construir pontes onde antes só havia muros.
Gosto de dizer que ampliar repertório não é luxo, é responsabilidade. Quando um líder se fecha no que já sabe, limita não apenas a si mesmo, mas também às pessoas e organizações que confiam nele. Ele se torna um repetidor de fórmulas, incapaz de enxergar o novo.
Mas quando um líder se abre, quando se expõe à diversidade de experiências, quando se coloca como aprendiz diante do mundo, ele se torna fonte de inspiração. Ele não apenas encontra melhores respostas, mas também ensina sua equipe a cultivar a mesma abertura.
E essa postura gera um efeito multiplicador: times mais criativos, organizações mais inovadoras, culturas mais humanas.
Cultivar repertório é, acima de tudo, escolher viver com presença, curiosidade e coragem. Porque é nesse movimento que descobrimos não apenas novas respostas, mas também novas formas de transformar o mundo à nossa volta.
Beijo grande,
Rosely Boschini