Sentado aqui no Go Coffee ao lado do Hospital do Rim, em dia dedicado ao controle do meu transplante renal (rotina), faço uma reflexão sobre como o mundo pós-pandemia ainda está longe de renascer das cinzas e do quanto isso impacta o marketing.
Talvez o principal ponto seja que algumas teorias certas, quando se depararam com a realidade, mostram que as pessoas não necessariamente se comportam da mesma forma que se manifestam nas redes sociais, ou seja, há um abismo entre a teoria e a prática; seja consumindo, seja trabalhando.
E isso tem uma lógica relativamente simples: o ser humano só muda de hábito quando um novo oferece uma experiência melhor que seu antecessor ou representa uma economia de energia ao corpo. Mudar um hábito é difícil devido à tendência do nosso cérebro de poupar energia: estima-se que um quinto da nossa energia seja consumida pela atividade cerebral. Por isso que adotamos hábitos em nosso dia a dia, sejam eles bons ou ruins.
E o que não faltam são exemplos disso. O primeiro deles e mais visível é o home office, que depois virou híbrido e que hoje, em muitas
No home office nem as empresas respeitam os limites de carga horária e nem os colaboradores respeitam os compromissos assumidos na contratação.
empresas, já voltou a ser 100% presencial, mesmo nas bigtechs como a Amazon. A prova maior é que hoje, nas grandes capitais, o trânsito já voltou aos mesmos patamares da pré-pandemia.
Na teoria o home office proporciona uma qualidade de vida melhor aos colaboradores e por decorrência um aumento na produtividade. Na prática, virou um jogo onde nem as empresas respeitam os limites de carga horária e nem os colaboradores respeitam os compromissos assumidos na contratação. Ou seja, uma várzea.
Outro exemplo que adoro é que o marketing digital vai matar o marketing tradicional. Na teoria, faz todo sentido, pois através da tecnologia é possível ter muito mais assertividade e eficácia nos investimentos que são muito mais mensuráveis. Na prática, virou uma CAOS, onde viramos reféns das plataformas que mudam as regras diariamente e aumentam os preços sem o menor pudor, e aí a rentabilidade, que em tese era melhor, vai para o ralo. Além disso, tem o volume de trabalho que é infinitamente maior no digital e exige estruturas mais robustas e caras que ninguém quer pagar. Ou seja, na prática a realidade é outra. Isso sem falar que o digital é ótimo para vender, mas péssimo para construir marcas.
Quer uma prova? Assista aos canais abertos de televisão e veja que, além das BETS (tema de outro artigo em breve), alguns dos maiores anunciantes são justamente as empresas da “nova economia”, sendo que muitas delas também são canais/plataformas de publicidade, ou ainda representantes da
nova Paleteria Mexicana Brasileira: O Retail Media/ADS.
Por outro lado, quando olhamos para o delivery de alimentos e bebidas e para o transporte de pessoas, o que na teoria era muito complicado de ser viabilizado e implementado, na prática foi definitivo. Hoje é impossível imaginar nossas vidas sem o Ifood, o Rappi, o Uber e o 99.
Por representarem um hábito infinitamente melhor que seus antecessores, e ainda por cima
ajudarem o corpo humano a consumir menos energia, representam, sem a menor dúvida, uma mudança definitiva de hábito.
Dito isso, queridos amigos, fato é que a teoria do marketing muito mais acessível, eficaz, sustentável e perene para todas as empresas, de todos os portes e setores de atividade, com o avanço da tecnologia que imaginávamos ter, na prática tem se revelado algo muito mais complexo e difícil de realizar, uma realidade na qual quem realmente ganha são as plataformas, que têm os consumidores trabalhando horas por dia de graça e as empresas investindo muitos bilhões achando que estão fazendo um ótimo negócio.
É o que venho dizendo há mais de 20 anos: NEM TUDO QUE VIRALIZA É OURO. Na teoria o “Novo” Marketing nasceu para todos; na prática, nasceu para todos que trabalham muito, estudam muito e praticam muito. Não há caminho fácil e aí você terá que brigar com seu cérebro que não gosta de gastar energia, ainda que isso represente para ele um péssimo hábito.
A única certeza que temos é que tradicional e digital devem andar sempre de mãos dadas, cada um agregando valor naquilo em que
é melhor.
Para concluir, deixo aqui uma dica de fim de ano. Na teoria, o cartão de Natal que enviaremos logo mais e que provavelmente será digital é muito mais fácil de criar, produzir e compartilhar. Mas, na prática, o impresso segue sendo imbatível, principalmente se vier com uma mensagem escrita pela sua mão.