Captação recorde e juros altos ampliam espaço do crédito corporativo no mercado
O mercado de debêntures registrou avanço significativo em 2024, consolidando-se como o principal ativo da indústria de fundos. No final de outubro, as alocações nesse tipo de dívida corporativa somaram R$ 594,6 bilhões, superando pela primeira vez os R$ 560,1 bilhões aplicados em ações. Apenas os títulos públicos possuem maior participação no portfólio dos fundos.
Entre janeiro e outubro, a posição em debêntures cresceu 38,4%, um acréscimo nominal de R$ 164 bilhões. Esse movimento acompanha uma tendência iniciada em 2020, período em que o volume alocado nesses papéis triplicou, enquanto as aplicações em ações recuaram 30%.
As debêntures ganharam relevância com a redução do crédito subsidiado do BNDES e, mais recentemente, com o cenário de juros elevados. O aumento da aversão ao risco também favoreceu a migração para ativos de renda fixa. Em 2024, os fundos captaram R$ 343 bilhões, o maior volume já registrado.
A alta na demanda gerou impacto direto no mercado de emissões. Entre janeiro e setembro, foram realizadas 458 ofertas de debêntures, movimentando R$ 326 bilhões, valores superiores aos registrados em 2023. Com esse desempenho, o estoque de debêntures alcançou R$ 1,14 trilhão, aproximando-se dos R$ 1,31 trilhão de empréstimos bancários para grandes empresas.
Gestoras de grandes bancos lideraram o movimento. No primeiro semestre, fundos de renda fixa do Banco do Brasil captaram R$ 48 bilhões, enquanto os do Itaú arrecadaram R$ 29 bilhões. Gestoras independentes também ampliaram sua participação, criando produtos focados em crédito privado.
A diversificação do mercado abriu espaço para novas estratégias, incluindo operações de curto prazo. Alguns fundos multimercados, antes focados em ações, passaram a incorporar debêntures em seus portfólios. A maior valorização desses papéis também incentivou empresas a emitir novas debêntures, reperfilando dívidas e aproveitando taxas reduzidas.
Com a consolidação desse mercado, especialistas como Ulisses Nehmi, da Sparta Investimentos, projetam que o crédito privado ultrapassará o bancário em concessões para grandes empresas nos próximos anos.