A 99, plataforma controlada pelo grupo chinês DiDi, anunciou o retorno de sua operação de entrega de refeições no Brasil, sob a marca 99Food. A retomada, prevista para o segundo semestre de 2025, será acompanhada por um investimento de R$ 1 bilhão, destinado à expansão da infraestrutura logística e integração com sua base de mais de 3.300 municípios onde já atua com transporte de passageiros e encomendas.
Lançada originalmente em 2019, a 99Food chegou a operar em 59 cidades brasileiras, com mais de 114 mil restaurantes cadastrados até 2022. A operação foi encerrada em 2023, em meio a um cenário dominado por contratos de exclusividade e concentração de mercado. Com a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em 2022, que proibiu o iFood de manter acordos exclusivos com redes que possuam mais de 30 lojas, o ambiente regulatório abriu espaço para novos competidores.
O iFood, atualmente com 55 milhões de clientes, 380 mil estabelecimentos cadastrados e operações em cerca de 1.500 cidades, movimenta aproximadamente R$ 8 bilhões por mês. Em 2023, o impacto econômico da empresa no Brasil foi de R$ 110,7 bilhões, o equivalente a 0,55% do PIB nacional, segundo levantamento da própria companhia.
A retomada da 99Food deve provocar novos movimentos competitivos. Além da 99 e do iFood, a colombiana Rappi mantém foco em entregas ultrarrápidas com o serviço Rappi Turbo, mas não divulga dados específicos da operação brasileira. O Brasil é o terceiro maior mercado da Rappi, atrás apenas da Colômbia e do México.
Segundo a consultoria Euromonitor International, o iFood detém 70% do mercado de entrega de refeições, enquanto a Rappi tem participação de 7%. O número é contestado pelo iFood, que argumenta que canais como telefone e WhatsApp ainda representam uma parte significativa do setor.
O investimento da 99 coincide com movimentações estratégicas globais. Em fevereiro de 2025, a controladora do iFood, a holandesa Prosus, anunciou a compra da Just Eat Takeaway.com por US$ 4,29 bilhões. A fusão posiciona o grupo como a quarta maior empresa global do setor em valor bruto de transações. Em paralelo, a DoorDash teria considerado adquirir a operação global da Rappi, e a Meituan, líder na China, tem mantido diálogos com operadores logísticos brasileiros sobre uma possível entrada no país.
Com o anúncio, a 99 reposiciona sua estratégia em um mercado estimado em dezenas de bilhões de reais ao ano. A companhia pretende utilizar sua estrutura já existente para oferecer um modelo integrado de transporte e entrega, com foco em restaurantes, consumidores e entregadores. A movimentação amplia as possibilidades de competição efetiva e sinaliza a continuidade da consolidação no setor de delivery no Brasil.