A farmacêutica brasileira Cimed está avaliando a cisão de sua divisão de consumo em uma estrutura independente, estratégia que marca a consolidação de sua ambição de se tornar uma “P&G brasileira”. O movimento ocorre após o aporte do GIC, Fundo Soberano de Cingapura, que adquiriu participação minoritária em uma transação 100% primária. A divisão de produtos não medicamentosos — que inclui vitaminas, energéticos, sex toys, perfumes e a linha Carmed — já representa 40% da receita da companhia, que somou R$ 2,6 bilhões em 2024.
O spin-off visa otimizar a estrutura de vendas e distribuição. Atualmente, tanto medicamentos quanto itens de consumo da Cimed são vendidos majoritariamente em farmácias, mas a vertical de consumo tem potencial para avançar em canais como supermercados e lojas de departamento. A companhia pretende separar as operações para dar maior agilidade comercial e logística à nova unidade, além de expandir sua presença em diferentes pontos de venda.
Entre os planos em curso, destaca-se a construção de uma nova fábrica voltada exclusivamente à produção de itens de higiene e beleza. O investimento previsto é de R$ 150 milhões e a planta será instalada no Nordeste, com previsão de operação a partir de 2026. A escolha da região visa reduzir custos logísticos e aproximar a produção do consumidor final, contribuindo para o objetivo de ampliar a capacidade fabril como parte de um investimento total de R$ 2 bilhões até 2029.
A entrada no segmento de consumo tem sido gradativa. Em 2023, a empresa realizou sua primeira aquisição em uma década com a compra da R2M, fabricante de lenços umedecidos. No mesmo período, estreou nas categorias de cremes dentais e enxaguantes bucais. A meta é ampliar esse portfólio com protetores solares e outros produtos voltados ao mercado de beleza e bem-estar, setor que movimentou R$ 173,4 bilhões no Brasil em 2024 e deverá alcançar R$ 267,6 bilhões em 2029, segundo projeções da Euromonitor International — um crescimento de 54,6% em cinco anos.
Com margem unitária menor, os produtos de consumo exigem maior giro e eficiência comercial. Segundo o CEO João Adibe, isso exige uma abordagem específica, distinta do modelo farmacêutico verticalizado que a empresa pratica atualmente. A spin-off permitiria estratégias customizadas para maximizar o desempenho de cada divisão.
A injeção de capital do GIC fortalece o caixa da empresa, que operava com um endividamento considerado saudável, em torno de 1x o Ebitda. A meta para 2025 é dobrar o faturamento e atingir R$ 5 bilhões, com projeção de alcançar R$ 10 bilhões em 2029, divididos entre as duas frentes de atuação. Além do crescimento orgânico, novas aquisições — tanto no setor farmacêutico quanto em categorias de consumo complementar — permanecem no radar estratégico.