Se eu pudesse, só se eu pudesse mesmo compartilhar o que penso sobre conteúdo, começaria com um pedido singelo, deixe os adjetivos em casa. Eles inflacionam frases como se fossem balões de festa coloridos, bem cheios, mas sempre à beira de estourar. O maior, o melhor, o primeiro… sério?
Para quem, exatamente?
O conteúdo bom, mesmo bom de verdade, não precisa se apresentar como tal. Ele entra devagar, sem tocar a campainha, e quando você percebe, já abriu uma janela dentro da cabeça. Mas para isso acontecer, é preciso primeiro se colocar no lugar de quem lê não só no sapato, mas no ritmo, no tédio, nas dúvidas, nas urgências.
Escrever não é falar alto. É escutar antes.
Muita gente escreve para impressionar. E impressiona, mesmo mas só quem já estava convencido. O resto, escapa entre linhas que não dizem nada. Porque conteúdo não é currículo. É caminho. E ninguém segue um caminho onde cada placa aponta pro próprio autor. Pesquisar é essencial mas virou quase um ato de rebeldia. Em tempos de Ctrl+C + ChatGPT, quem investiga, cruza dados, volta uma página antes da tendência, parece antiquado. Mas é aí que mora a originalidade, não em dizer o que nunca foi dito, mas em dizer o mesmo de um jeito que ninguém tinha pensado. Original é quem consegue fazer o outro pensar. “Por que eu nunca vi por esse ângulo?”.
E sim, pode usar inteligência artificial. Mas não terceirize o que só você pode sentir. IA serve pra lapidar, não pra viver por você. O perigo não é a ferramenta. É a preguiça. Estamos começando a produzir um conteúdo pasteurizado, bonito na vitrine, mas sem gosto. Não emociona, não mobiliza, não fica.
O bom conteúdo é aquele que serve. Que informa, acolhe, cutuca, organiza ou provoca. Pode até ser simples, desde que seja útil. O valor dele não está em quem escreve, mas em quem transforma. E transformar exige presença. Presença exige intenção. E intenção… bem, essa não se copia nem se compra.
Porque, no fim, conteúdo não é sobre um ou outro. É sobre um com o outro. E só assim vale a pena escrever. E ler.