Todos os dias, o mundo gera mais de 400 milhões de terabytes de dados. Grande parte deles está nas mãos das instituições financeiras, coletados de interações cotidianas, uma compra no débito, uma transferência via Pix, uma simulação de financiamento. E no centro dessa nova economia de dados, emerge uma questão fundamental: se o dado é meu, como eu posso extrair valor dele?
O setor bancário já entendeu a resposta. No painel “IA e Futuros Orientados por Dados” do Febraban Tech 2025, nomes como Alexandre Minato (CDO do Santander), Leandro Rocha de Andrade (Chief Data Analytics Officer do Itaú Unibanco), Rafael Cavalcante (diretor de inteligência de dados e CRM do Bradesco) e Tábata Sakurai (Head de Dados do BTG Pactual) mostraram que dados não são apenas subprodutos das operações, são ativos estratégicos que, quando tratados com ética, segurança e inteligência, se transformam em vantagem competitiva.
Segundo eles, o dado do cliente não é apenas protegido como um recurso financeiro: ele é utilizado para criar experiências personalizadas, produtos mais adequados, taxas mais justas. E isso tem nome: monetização. Mas, ao contrário do imaginário popular, monetizar dados não significa vendê-los. Significa gerar valor para todas as pontas.
O Open Finance é o melhor exemplo: ao autorizar o compartilhamento de seus dados entre instituições, o consumidor pode receber propostas de crédito mais baratas, investimentos mais alinhados ao seu perfil ou ofertas customizadas baseadas em seu momento de vida. É uma espécie de “venda indireta”, não do dado em si, mas do contexto que ele permite construir.
O dado, diferente do petróleo, pode ser reutilizado inúmeras vezes, ganhando valor a cada uso. E justamente por isso, exige um nível elevado de governança, proteção e responsabilidade. Todos os executivos reforçaram que suas instituições já operam com camadas robustas de segurança, ambientes isolados (como as “bolhas informacionais” do Santander e do Itaú) e profissionais especializados em compliance, LGPD e privacidade por design.
Ao mesmo tempo, a cultura interna e o letramento externo ganham protagonismo. Tábata revelou que o BTG está treinando toda a empresa, incluindo executivos, sobre IA e dados. Minato destacou que o Santander definiu com clareza quem pode fazer o quê com dados e criou programas de capacitação com trilhas específicas. Rafael reforçou que a educação financeira e a conscientização sobre privacidade são tão importantes quanto a tecnologia em si. E Leandro defendeu que todos os pontos de contato com o cliente são oportunidades para explicar, com clareza, como os dados são utilizados.
A boa notícia é que o Brasil está entre os líderes globais nesse campo. Segundo Minato, o volume de chamadas de APIs do Open Finance no país ultrapassa 7 bilhões por mês. A adesão cresce, os modelos se sofisticam e a jornada do cliente, hiperpersonalizada, já é uma realidade. Mas o futuro exige mais: regulação contínua, transparência radical e, acima de tudo, uma mudança de mentalidade.
Dado é capital. E, no mundo digital, capital que não gera valor não se sustenta.