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Não terceirize a relação com o seu cliente

Se tem uma coisa que aprendi construindo e investindo em negócios é que a melhor reunião de inovação não acontece numa sala com ar-condicionado, mas onde o cliente está. A relação direta é a maior fonte de ideias que uma empresa pode ter. Quando você conversa, observa, testa e volta a ouvir, decisões complexas ficam óbvias. Não é romantizar “ouvir o cliente”, é aplicar método para transformar comportamento em produto, mensagem e crescimento.

Quando a estratégia nasce de fora para dentro, os números acompanham. Programas sólidos de personalização reduzem custo de aquisição em até 50%, elevam receita entre 5% e 15% e, nas empresas que mais crescem, já respondem por 40% a mais da receita do que nos concorrentes. É o efeito de usar o que o cliente faz e diz para guiar oferta, canal e momento.

No e-commerce, a realidade é clara: sete de cada dez carrinhos são abandonados.

Cada ponto percentual recuperado vem de remover atritos que só aparecem na jornada real — custos-surpresa, cadastro forçado, incerteza sobre entrega, checkout lento. É comportamento puro, revelado pela relação direta.

Ideias que nascem do campo

Gosto de casos em que o fundador admite que a virada veio ao falar direto com o cliente. A Golden Goose acelerou quando o CEO Silvio Campara decidiu “pular os agentes e falar diretamente com os clientes”. Daí surgiu a estratégia de co-criação, em que o consumidor participa do design do tênis, elevando engajamento, experiência e vendas. No primeiro semestre de 2025, a marca reportou €342,1 milhões de receita, alta de 13% ano contra ano, com tênis representando 90% das vendas. É mais que ponto de vista no cliente, é ponto de vista do cliente.

Outro exemplo é a Glossier, que nasceu de uma comunidade cultivada pela fundadora ouvindo rotinas e dúvidas reais. Até hoje, a marca ajusta portfólio com base nessa conversa. Em 2024, após forte reação da comunidade, voltou à fórmula original do Balm Dotcom. A conversa não é só marketing; orienta produto, corrige rota e preserva lealdade.

A LEGO institucionalizou a participação do cliente com o LEGO Ideas: fãs submetem projetos, a comunidade vota e, ao atingir 10 mil apoios, a ideia entra em revisão para virar produto. Além de ampliar o funil de ideias a custo menor, a empresa usa o voto dos clientes como teste de demanda antes da produção. É um mecanismo simples para transformar relacionamento em inovação.

O que os números já provaram

Lealdade anda junto de crescimento. Estudos da Bain mostram que empresas líderes em NPS crescem mais que o dobro da taxa dos competidores. Quem constrói promotores por meio de experiências melhores captura mais receita orgânica e indicação. NPS não é a única métrica, mas sinaliza o valor de uma relação bem cuidada.

A urgência de olhar comportamento também aparece na performance técnica. No mobile, quando o carregamento passa de 1 para 3 segundos, a chance de saída sobe 32%. De 1 para 10 segundos, o salto chega a 123%. Quem está perto do cliente sente isso antes de ver a curva de bounce. Resolver velocidade não é “coisa de TI”; é remover barreira de relacionamento que mata vendas.

Prova social é outro ponto cego de sala de reunião e clarão quando falamos com clientes. Reviews reais podem aumentar conversão em 190% para itens baratos e até 380% para caros, porque reduzem risco percebido. É o cliente explicando ao cliente por que vale a pena, e a empresa só precisa abrir espaço. Além do digital, programas sérios de sucesso do cliente, com gente dedicada a acompanhar valor percebido, têm retorno direto. A Forrester mediu casos com ROI de três dígitos em três anos quando a função de Customer Success é estruturada. Em linguagem simples: ouvir melhor retém melhor e vende mais para a mesma base.

Transformando relacionamento em motor de crescimento

Primeiro, crie cadência. Marque conversas semanais com clientes e não clientes. Faça entrevistas curtas e observação de uso. Documente palavras exatas, objeções e sinais de confiança. Esses insumos reescrevem proposta de valor, páginas e script comercial. Se virar evento, perde efeito. Se virar rotina, muda cultura.

Segundo, feche as maiores perdas rápido. Se o abandono de carrinho está perto da média global, não adianta inventar moda antes de resolver causas principais. Mostre o frete cedo, simplifique etapas, ofereça métodos de pagamento locais e políticas de devolução claras. O básico com excelência libera orçamento para o avançado.

Terceiro, traga o cliente para dentro. Co-criação, painéis de usuários, beta fechado, grupos de clientes engajados. A LEGO provou que dá para transformar ideias de fãs em produto comercial. A Golden Goose mostrou que dá para fazer disso experiência de marca.

Quarto, meça impacto onde importa. Personalização que nasce de comportamento precisa aparecer no P&L: queda de CAC, aumento de receita por cliente, maior frequência, NPS subindo. Benchmarks de McKinsey ajudam a calibrar ambição e contar a história certa para o conselho: não é “campanha bonita”, é crescimento com eficiência.

Quinto, eduque o time a ler sinais. Conversão não cai por acaso, churn não sobe do nada, e reclamação recorrente é briefing gratuito. Quando produto, marketing e atendimento olham o mesmo mural de evidências vindas de clientes, a empresa decide mais rápido e com menos disputa.

O que você ganha quando para de terceirizar o cliente

Ganha velocidade, porque o feedback é em tempo real. Ganha assertividade, porque a hipótese nasce com endereço certo. Ganha eficiência, porque prioriza o que o cliente valoriza. E ganha reputação, porque responde com transparência quando erra e convida o cliente a construir a solução.

No final, a pergunta é simples: quem fala com o cliente toda semana na sua empresa? Se a resposta for “quase ninguém”, vocês estão terceirizando a maior fonte de ideias. Se for “quase todo mundo”, já entenderam que estratégia boa começa onde as pessoas estão, e não onde a agenda permite.

O cliente não precisa de mais um brainstorm. Ele precisa ser ouvido. Quando a relação vira centro, os painéis deixam de ser decoração e viram bússola. É assim que marcas crescem com consistência: com ideias do campo e métricas que confirmam o que o cliente já dizia.

Alfredo Soares

CEO G4 Educação e Loja integrada.

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