Em diversos processos gráficos, a função de transporte da tinta está associada ao mecanismo de formar a geometria. Por exemplo, a serigrafia dosa a tinta por filtragem imediatamente antes de moldar a tinta – entre a face inferior da tela e o substrato.
Óbvio como possa parecer uma vez descrito desta maneira, houve um tempo em que se pensava no processo em duas dimensões apenas. Entender como funciona a matriz é praticamente entender o processo gráfico. A qualidade e os defeitos se encontram no mecanismo de transporte da tinta e de formação da geometria da imagem. É processo, e não materiais ou insumos.
O sistema inkjet, que é análogo à serigrafia, faz uma dosagem da tinta (volume da gota) feito por contração do volume de uma câmara (sistema piezoelétrico) ou pela expansão do volume de tinta dentro da câmara (sistema térmico). A geometria da imagem é uma função do sincronismo entre traslado da “matriz” (cabeça de impressão) e atuação de cada elemento dosador. Introduziu – se um fator de tempo como parte integrante da maneira de controlar a geometria da imagem.
O que isto influi e para que serve?
Bem, na serigrafia o volume está contido entre a matriz e o substrato. Então, o processo da serigrafia permite imprimir sobre uma enorme variedade de materiais porque a moldagem ocorre diretamente sobre o que se imprime. Isto sempre foi um grande diferencial da serigrafia, além de se depositar uma quantidade comparativamente grande de tinta.
O sistema inkjet está cada vez mais avançando no campo de controle do volume da tinta, em picolitros. Entretanto, como conter o espalhamento de cada gota, ou seja, como manter a geometria da imagem enquanto sistema? A resposta não é óbvia, mas novamente se trata de entender o processo. A restrição do espalhamento da gota de tinta se encontra no próprio substrato a ser impresso, como parte do sistema.
Quero dizer que, a menos que se invente um sistema onde a conteção da geometria esteja “embutido” no equipamento, a promessa de substituição de todas as propriedades características da serigrafia não vai se cumprir. Por exemplo – a promessa de imprimir sobre todo e qualquer material por inkjet mudando o tipo de tinta tem falhado miseravelmente. Você usa tinta solvente e imprime PVC… Desde que seja plastificado, OK, outros plásticos que contenham plastificantes, até vai… Mas é complicado. Tintas UV, ampliaram a gama de materiais, mas continua complicado.
A contenção do espalhamento da gota está em uma propriedade elétrica dos materiais chamada “tensão superficial”. Na prática, você consegue imprimir por injket sobre materiais TRATADOS para receber tinta por inkjet. Se for um material convenientemente adequado (como lonas e adesivos de vinil), beleza.
Novos sistemas onde o espalhamento da tinta é controlado antes da transferência já foram inventados (Landa). Vamos ver se irá cumprir a promessa de imprimir sobre materiais não tratados (leia – se, materiais mais baratos) como a serigrafia permite. Enquanto isso cuide dos detalhes para que as telas de serigrafia façam a diferença e possam reproduzir com excelência, dando escala ao seu processo de produção.
Por Ary Luiz Bon