A economia comportamental é o estudo de como as pessoas tomam decisões e como essas decisões são influenciadas por uma ampla gama de fatores psicológicos e sociais. Em contraste com a economia tradicional, que assume que as pessoas sempre agem racionalmente e em seu melhor interesse, a economia comportamental reconhece que as pessoas estão sujeitas a vieses cognitivos, influências emocionais e normas sociais que podem impactar suas escolhas e comportamento.
Uma das principais ideias da economia comportamental é que os seres humanos muitas vezes dependem de atalhos mentais, ou heurísticas, para tomar decisões rapidamente e eficientemente. Essas heurísticas podem ser úteis, mas também podem levar a erros de julgamento e tomada de decisão.
Por exemplo, a heurística de disponibilidade é a tendência de julgar a probabilidade de um evento com base em quão facilmente podemos lembrar exemplos dele. Se tivermos visto recentemente notícias sobre ataques de tubarão, podemos superestimar a probabilidade de sermos atacados por um tubarão, mesmo que o risco real seja muito baixo.
Outra heurística comum é o efeito de ancoragem, que é a tendência de confiar muito no primeiro pedaço de informação apresentado ao tomar uma decisão. Por exemplo, se um vendedor de carros lhe disser que um modelo custa R$ 30.000, você pode estar mais propenso a concordar com um preço de R$ 25.000 do que se o vendedor tivesse começado com um preço inicial mais alto.
A economia comportamental também reconhece o papel das emoções na tomada de decisões. A economia tradicional assume que as pessoas tomam decisões com base apenas em considerações racionais, mas a economia comportamental reconhece que as emoções podem desempenhar um papel significativo em nossa tomada de decisão.
Por exemplo, estudos mostram que as pessoas são mais propensas a doar dinheiro para uma instituição de caridade se for mostrado um vídeo triste ou emocional, em vez de um vídeo neutro. Da mesma forma, as pessoas são mais propensas a fazer compras impulsivas quando estão se sentindo felizes ou animadas.
O efeito de endowment é outro conceito importante na economia comportamental. O efeito de endowment é a tendência das pessoas de valorizar as coisas mais altamente simplesmente porque as possuem. Isso pode levar a comportamentos irracionais, como recusar-se a vender um ativo por menos do que seu valor percebido, mesmo que o valor de mercado seja mais baixo.
Uma das ideias mais influentes na economia comportamental é a teoria do prospecto, que foi desenvolvida por Daniel Kahneman e Amos Tversky na década de 1970. A teoria do prospecto explica como as pessoas tomam decisões sob condições de incerteza e foi amplamente aplicada a uma variedade de fenômenos econômicos
e sociais.
A teoria do prospecto sugere que as pessoas nem sempre tomam decisões com base na teoria da utilidade esperada, que assume que as pessoas escolhem a opção que oferece o maior valor esperado. Em vez disso, as decisões das pessoas são influenciadas pela maneira como o problema é apresentado a elas.
Por exemplo, Kahneman e Tversky demonstraram que as pessoas são mais propensas a correr riscos quando o problema é apresentado em termos de perdas potenciais, em vez de ganhos potenciais. Eles descobriram que as pessoas são mais propensas a arriscar quando estão prestes a perder algo que já têm do que quando têm a oportunidade de ganhar algo novo.
Esse efeito é conhecido como viés de aversão à perda. As pessoas são mais motivadas a evitar perdas do que a adquirir ganhos, e esse viés pode levar à tomada de decisões irracionais.
A economia comportamental também reconhece a importância das normas sociais na tomada de decisões. As normas sociais são regras não escritas que governam o comportamento dentro de um grupo ou sociedade específica. Elas podem influenciar nossas escolhas e comportamentos, mesmo quando conflitam com nossas preferências ou interesses pessoais.
Por exemplo, estudos mostram que as pessoas são mais propensas a jogar lixo em áreas onde já há muito lixo no chão, porque percebem o ato de jogar lixo como uma norma social naquele ambiente. Da mesma forma, as pessoas podem ser mais propensas a doar dinheiro para uma instituição de caridade se souberem que seus pares também estão doando.
Kahneman e Tversky também demonstraram o impacto das normas sociais na tomada de decisões em seu trabalho sobre o “viés da inércia”. Eles descobriram que as pessoas são mais propensas a manter a opção padrão, mesmo que não seja do seu melhor interesse, porque a percebem como a norma.
A economia comportamental tem implicações importantes para a formulação de políticas. Os modelos econômicos tradicionais assumem que as pessoas sempre agirão em seu interesse racional, mas a economia comportamental sugere que isso nem sempre é o caso. As políticas que dependem de incentivos ou penalidades podem não ser eficazes se não levarem em conta as heurísticas, emoções e normas sociais que influenciam o comportamento. As políticas que aproveitam esses fatores, por outro lado, podem ser mais bem-sucedidas.
Um exemplo de política que usa a economia comportamental é a política de “empurrão”, que visa influenciar o comportamento sem restringir a escolha. Por exemplo, colocar opções de alimentos saudáveis ao nível dos olhos em uma cafeteria pode incentivar as
pessoas a fazer escolhas mais saudáveis, sem forçá-las a isso.
Richard Thaler, outro economista comportamental influente, desenvolveu o conceito de “paternalismo libertário”, que combina as ideias de liberdade de escolha e paternalismo. A ideia é empurrar as pessoas para tomar decisões melhores, sem restringir sua liberdade de escolha.
Um exemplo de paternalismo libertário é o uso de opções padrão em planos de poupança para aposentadoria. Ao estabelecer uma taxa de contribuição padrão, os funcionários são mais propensos a economizar para a aposentadoria do que se tivessem que escolher uma taxa de contribuição ativamente. Essa abordagem aproveita o viés de inércia e o efeito de endowment, que tornam as pessoas mais propensas a seguir a opção padrão.
A economia comportamental também tem sido usada para explicar e abordar uma ampla gama de questões sociais, como pobreza, saúde e educação. Por exemplo, a economia comportamental sugere que a pobreza pode criar uma “mentalidade de escassez”, na qual as pessoas se concentram nas necessidades imediatas e têm recursos cognitivos limitados para o planejamento de longo prazo. Isso pode levar a um ciclo de pobreza, no qual as pessoas lutam para sair de suas circunstâncias atuais.
Em resposta, os economistas comportamentais propuseram intervenções, como programas de treinamento financeiro e assistência que ajudam as pessoas a desenvolver habilidades de planejamento financeiro de longo prazo. Ao reconhecer os fatores psicológicos e sociais que contribuem para a pobreza, essas intervenções podem ser mais eficazes do que as políticas tradicionais que se concentram exclusivamente na prestação de assistência financeira.
A economia comportamental também sugere que os comportamentos de saúde são influenciados por uma variedade de fatores além da escolha pessoal, como normas sociais, fatores ambientais e a disponibilidade de opções saudáveis. As políticas que abordam esses fatores, como a construção de ciclovias e calçadas, a promoção de opções de alimentos saudáveis em escolas e locais de trabalho e a restrição da venda de produtos não saudáveis, podem ser mais eficazes na promoção de comportamentos saudáveis do que as políticas que dependem exclusivamente da escolha individual.
Em resumo, a economia comportamental oferece um poderoso quadro para entender o comportamento humano e a tomada de decisões e para desenvolver políticas e intervenções que promovem o bem-estar individual e o progresso social. Ao reconhecer os fatores psicológicos e sociais que influenciam o comportamento, podemos criar políticas que abordem os desafios complexos de nosso tempo e que reflitam a complexidade total da experiência humana.