Um dos documentários mais esperado por mim era “The Last Dance”. É um documentário original Netflix e fala sobre o reinado de Michael Jordan e do Chicago Bulls no basquete norte-americano e mundial nos anos 90. Trata-se de uma obra-prima não só de direção, mas principalmente pelo elenco e pelos muitos e fabulosos “coadjuvantes”. Após o documentário, quis entender mais Phil Jackson, lenda como técnico e gestor. Um de seus grandes segredos era como ele tratava cada indivíduo de forma diferente. Minha curiosidade me levou ao livro “Onze Anéis” (Eleven Rings, no original), obra-prima de Phil Jackson.
Phil Jackson foi o lendário treinador do Chicago Bulls e dos Lakers, dois dos principais times da liga profissional de basquete americana NBA, o fez dele o mais bem-sucedido treinador da história americana. Este livro traz a sua experiência como treinador dos dois times. Ele fala sobre o que teve que fazer para lidar com os talentos e criar um time coeso antes de conseguir singelos onze destes. Foram seis com o Chicago Bulls, de Michael Jordan e Scottie Pippen em dois tricampeonatos (1991-1993 e 1996-1998), e cinco com o Los Angeles Lakers – primeiro no tricampeonato com Shaquille O’Neal e Kobe Bryant (200-2002), e logo depois com o bicampeonato no time que tinha Kobe e o espanhol Pau Gasol comandando as ações (2009 e 2010).
Muita coisa pode ser aprendida desse livro. Entretanto, é preciso notar que ele não é um livro de autoajuda, nem muito menos um manual de treinamento, já que o livro é formado pelas perspectivas e métodos que ele usou com os times. Um deles é quando ele trata o time como uma tribo, em que cada membro sabe o seu papel antes de cumprir seus objetivos.
Um método não funciona para todos. Afinal, existiam várias estrelas e egos gigantescos no time, então ele trabalhou com cada um de forma diferente, usando um método diferente até que cada jogador respondesse a ele de forma positiva. Um bom exemplo é que ele dava um livro para cada estrela, mesmo que o jogador não fosse ler o material, ele sabia que o treinador se importava com ele.
Jackson descreve como lidou com os jogadores mais famosos de cada equipe – Michael Jordan, Scottie Pippen e Dennis Rodman no Bulls, Kobe Bryant e Shaquille O’Neal no Lakers. Vale a pena ver como Jackson lidou com uma situação envolvendo Pippen durante os playoffs de 1994, quando o Chicago Bulls estava jogando sem Jordan. Muitas vezes Jackson sabe o que mais pesa para o jogador, tanto do lado positivo quanto do negativo. Ele é um treinador que conhece o time que tem e trata cada jogador com a devida atenção, resultando em um time vitorioso.
As histórias deste livro são uma fonte de informação sobre grandes nomes do basquete, consequentemente sobre parte da história do basquete também. Afinal, temos o vencedor de 11 torneios. Livro excelente, edição impecável e vale a pena a leitura. Recomendado para todos os leitores, obrigatório para os fãs de esporte.
Foi inesperado saber que Phil Jackson é um adepto da meditação, ou seja, aquele treinador, que teve que lidar com grandes atletas, cheios de adrenalina pela competição em que se encontravam inseridos – tinha como prática de vida – a filosofia zen de ser e de se enxergar.
Os jogadores, deuses do entretenimento, são apresentados em sua face mais humana, com ódios, invejas, alegrias e brincadeiras. Todos seres humanos, tão complexos quanto cada um de nós e tudo isso entremeado por várias citações filosóficas de alguns mentores zen e de figuras históricas.
Como estrutura, logo no início do livro somos apresentados aos parâmetros que pautaram o diagnóstico que Phil Jackson fazia das suas equipes. Baseando-se na obra inovadora Tribal Leadership, dos consultores de gestão Dave Logan, John King e Halee Fischer-Wright, na qual apontam as 5 etapas de desenvolvimento tribal:
Etapa 1 – a vida é uma merda
Etapa 2 – minha vida é uma merda
Etapa 3 – eu sou o máximo (e você não é)
Etapa 4 – nós somos o máximo (e vocês não são)
Etapa 5 – a vida é o máximo.
Obviamente o ideal é que os grupos possam ir crescendo etapa a etapa, até curtir a trajetória ao máximo na sua rotina, quando alcançam a Etapa 5. E era assim que Phil Jackson observava os grupos que tinha na mão. Buscava identificar em que ponto desta escala eles se encontravam, para então tratar de visualizar os acertos necessários para que eles pudessem dar um pulo para a etapa seguinte.
LIÇÕES DE PHIL que me tocaram
É preciso uma série de fatores críticos para se conquistar um campeonato da NBA, incluindo uma combinação certa de talento, criatividade, inteligência, tenacidade e, claro, sorte. Mas, se uma equipe não tem o ingrediente essencial – amor -, nenhum dos outros fatores importa (pág. 14).
Às vezes não importa se você é um cara muito legal. Em certos momentos você tem que ser sórdido, antipático e desagradável. Você nunca será um técnico se tem necessidade de ser amado (pág. 30).
(…) no início de cada temporada sempre incentivava os atletas a se concentrarem na jornada e não na meta. O que mais importa é jogar do jeito certo e ter coragem de evoluir, tanto como seres humanos quanto como jogadores de basquetebol. Se você agir assim, o anel [prêmio individual dado aos ganhadores do título da NBA] cuida de si mesmo (pág. 32).
(…) o que aprendi ao longo dos anos é que a abordagem mais eficaz é a de delegar autoridade tanto quanto possível e
também cultivar as habilidades de liderança de todos os outros. Quando você consegue realizar isso, além de ajudar a construir a unidade da equipe e dar ensejo a que os outros se desenvolvam, paradoxalmente também reforça o seu papel como líder (pág. 89).
O sentimento profundo de ligação que brota da união dos jogadores traz uma tremenda força que varre o medo de perder (pág. 104).
Ditado zen: “Antes da iluminação, corte lenha e carregue água. Após a iluminação, corte lenha e carregue água”. O objetivo: concentre-se na tarefa à mão em vez de reviver o passado ou se preocupar com o futuro (pág. 183) (3). Ou ainda: Tal como tudo na vida, a despeito das diferentes circunstâncias, as recomendações são sempre as mesmas: cortar lenha, carregar água (pág. 290).
(…) a chave para a paz interior é a confiança na interconexão essencial de todas as coisas. Uma respiração, uma mente. Isso é o que nos fortalece e nos revitaliza em meio ao caos (pág. 225).
O trabalho de um líder é fazer de tudo ao seu alcance para propiciar condições perfeitas em função do sucesso, abstraindo-se do próprio ego e inspirando a equipe a jogar da maneira certa. Porém: a alma do sucesso é a rendição ao que é (pág. 330).