A franco-brasileira NetZero captou US$ 15 milhões (R$ 85 milhões) ao conquistar a segunda colocação no XPrize Carbon Removal, iniciativa global promovida pela XPrize Foundation com financiamento de US$ 100 milhões da Musk Foundation. O prêmio reconhece soluções escaláveis para remoção de carbono da atmosfera, e a proposta da NetZero se destacou ao operar com um modelo circular baseado no uso de resíduos agrícolas, especialmente a casca de café, para a produção de biochar — um biocarvão capaz de fixar carbono no solo por centenas de anos.
O modelo adotado pela NetZero envolve agricultores locais tanto na oferta da biomassa quanto na aplicação do produto final, o que reduz custos logísticos e fortalece a rastreabilidade da operação. A tecnologia proprietária da empresa usa pirólise — processo térmico sem oxigênio — para converter resíduos orgânicos em biochar, gerando também energia renovável. O modelo opera em ciclo fechado, com reaproveitamento energético local e estímulo à economia regional.
A empresa já opera três usinas industriais. A planta de Lajinha (MG), com capacidade de 4 mil toneladas por ano, é a maior do mundo dedicada exclusivamente ao uso de resíduos agrícolas. A unidade de Brejetuba (ES), inaugurada em 2024, opera na mesma escala, incorporando novos avanços tecnológicos. Há ainda uma planta em operação em Nkongsamba, Camarões, com capacidade de 2 mil toneladas anuais. Outras duas unidades estão em construção no Brasil, e novas linhas de produção com o sistema Gen2 estão previstas para 2025.
Segundo o IPCC, o uso global do biochar pode remover até 2 bilhões de toneladas de CO₂ por ano, o que posiciona a tecnologia como uma das mais promissoras no portfólio de soluções climáticas de impacto imediato. Para participar do XPrize, as empresas precisaram comprovar capacidade de remoção mínima de mil toneladas líquidas anuais de CO₂ e apresentar planos de escala para atingir gigatoneladas.
A NetZero se destaca como uma das poucas empresas em operação no Brasil com potencial de escalar industrialmente uma solução de sequestro de carbono validada por organismos científicos e investidores internacionais. A proposta também responde diretamente às demandas do setor agrícola por soluções que aumentem a resiliência do solo e promovam regeneração ambiental com impacto econômico local.