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Capital em Suspense

Em mais um dos painéis no palco central do Web Summit Rio, o futuro do venture capital latino-americano foi colocado sob os holofotes. Três nomes conhecidos se reuniram para abrir o jogo, Marcello Gonçalves da DOMO VC, Mike Packer da QED Investors e Vanessa Dezem da Bloomberg, numa conversa que misturou realismo, esperança e uma boa dose de pragmatismo.

Mike foi direto ao ponto, o cenário mudou, juros subiram, a liquidez evaporou, e o dinheiro novo só voltará a fluir quando o velho encontrar o caminho de volta. Hoje, Brasil e México seguram um mercado mais estável, mais maduro, embora longe da euforia dos anos dourados de 2021 e 2022.

Marcello trouxe um choque de realidade, lembrar que a América Latina não pode ser comparada aos Estados Unidos ou à Europa foi o seu ponto de partida. Nossos mercados de capitais são frágeis, especulativos, e para startups, levantar capital é uma maratona sem linha de chegada à vista. IPOs são exceção, não regra, e vender a empresa é, na maioria das vezes, a grande vitória.

Vanessa, sempre elegante na condução, costurava as perguntas com inteligência, empurrando a conversa para o que realmente importa, o que virá depois.

Sobre IPOs, a divergência surgiu com naturalidade. Marcello se manteve cético, lembrou que sem receita em dólar, sem presença internacional sólida, e sem musculatura de receita acima de 500 milhões de dólares, o sonho americano é improvável. Mike, mais otimista, acredita que algumas exceções surgirão, mesmo que o tempo exija paciência e resiliência.

A conversa se expandiu. Novas fronteiras de crescimento surgem em Colômbia, Chile e Argentina, onde a fome por empreender resiste a todas as crises. E o empreendedor latino começa a mudar seu mapa mental, pensando regional, pensando global, cada vez mais cedo.

Então, inevitável, surgiu o nome que ainda não havia sido dito, inteligência artificial. Mike e Marcello foram pragmáticos, IA será ferramenta, não produto, ajudará nos bastidores, não brilhará nos palcos, ao menos por aqui. A revolução está na base, no crédito, nos meios de pagamentos, na eficiência das operações.

Enquanto isso, o crédito brasileiro segue um ciclo próprio, taxas altas, inflação persistente, mas também um movimento silencioso de fortalecimento dos mercados de dívida estruturada, oferecendo novas possibilidades para financiar negócios fora dos bancos tradicionais.

Para quem empreende, tempos duros para captar, tempos férteis para nascer. Um tempo onde só sobreviverá quem entender que resiliência é tão valiosa quanto a inovação.

O painel terminou, mas ficou no ar um certo incômodo, uma tensão boa, como a pausa antes do próximo movimento. Entre cautela e convicção, o venture capital da América Latina segue vivo, respirando diferente, mas ainda cheio de possibilidades para quem sabe olhar além do óbvio.

Marco Marcelino

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