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Guerra comercial e ciberataques: o novo front invisível da competitividade global

As disputas comerciais entre países sempre foram motivadas por interesses estratégicos, econômicos e geopolíticos. No entanto, no cenário atual, essas guerras extrapolaram tarifas e subsídios para se consolidarem também no ciberespaço. A guerra da balança comercial, impulsionada por rivalidades globais, tem sido um dos combustíveis para uma provável elevação de ataques cibernéticos. E nesse novo campo de batalha, empresas de setores estratégicos — muitas vezes localizadas em países que nem estão diretamente envolvidos no conflito — tornam-se os principais alvos.

Em tempos de economia digital, o capital intelectual se tornou um dos ativos mais valiosos. Patentes, fórmulas, projetos e dados estratégicos são alvos tão ou mais cobiçados do que produtos manufaturados. Grupos de cibercriminosos — muitos deles com motivações geopolíticas claras e até mesmo ligados a Estados — utilizam técnicas avançadas para roubar informações sensíveis e desestabilizar setores inteiros de infraestrutura crítica.

Agora, já não estamos mais lidando com ataques aleatórios conduzidos por hackers isolados.

Atualmente, grande parte das investidas cibernéticas integra operações estruturadas, com propósitos claros: obter vantagem competitiva, sabotar rivais internacionais ou interferir em políticas econômicas. O setor de energia é um exemplo emblemático — e o Brasil já sentiu diretamente os efeitos disso. Nos últimos anos, praticamente todas as grandes companhias do setor elétrico nacional foram alvo de tentativas, ou mesmo de incidentes concretos, de invasão. O motivo é claro: além de estratégico, esse setor utiliza tecnologias semelhantes às de empresas globais, facilitando o reaproveitamento de vulnerabilidades já exploradas em outros países.

A escassez de tecnologias nacionais voltadas à cibersegurança expõe uma fragilidade crítica: nossa elevada dependência de soluções estrangeiras, que amplia significativamente a vulnerabilidade do país diante dos riscos cibernéticos. A esmagadora maioria das ferramentas utilizadas aqui vem de fora — o que implica, além de custos elevados, uma dificuldade de adaptação e resposta ágil frente a ameaças cada vez mais sofisticadas. O interesse por dados confidenciais — como estratégias comerciais, tecnologias proprietárias e até informações sobre aquisições — se tornou uma prática recorrente. A motivação nem sempre é o resgate financeiro, mas sim o ganho competitivo, seja para acelerar o desenvolvimento interno de uma tecnologia, seja para desvalorizar ou desacreditar uma empresa concorrente em âmbito internacional.

Além disso, possuímos algumas fragilidades adicionais, como o vínculo à tecnologia externa: a carência de independência em áreas tecnológicas cruciais (como 5G e computação em nuvem) faz com que o Brasil fique sujeito a empresas estrangeiras, grande parte delas em meio a tensões geopolíticas. A análise sobre o envolvimento de uma empresa multinacional de equipamentos para redes e telecomunicações, Huawei na infraestrutura 5G nacional, ilustra a posição delicada do país no confronto sino-americano.

Diante desse cenário, as corporações precisam adotar estratégias multifacetadas. Primeiro, investir em resiliência cibernética é imperativo, o que deve também incluir a adoção de uma apólice de seguros cibernéticos. Em um país onde o ecossistema de ciberproteção ainda está em desenvolvimento, muitos negócios, especialmente os de médio porte, se encontram muitas vezes desprotegidos — ou, no mínimo, subdimensionados frente aos riscos reais que o ambiente digital proporciona.

O Brasil, mesmo sem estar no epicentro das tensões geopolíticas, compartilha a vulnerabilidade tecnológica das grandes potências, e a falta de preparo cibernético e a dependência econômica externa o tornam vulnerável a ataques silenciosos e a pressões comerciais assimétrica. É essencial, portanto, encarar a cibersegurança como parte da estratégia nacional de desenvolvimento. Incentivar a produção local de soluções, fortalecer e promover uma cultura de segurança digital são passos urgentes.

Porque, hoje, a guerra pela balança comercial não se trava apenas com tarifas e acordos. Ela também acontece em firewalls, servidores, linhas de código e painéis de controle. E quem não se protege, inevitavelmente, vira território conquistado.

Marta Helena Schuh

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