O modelo de empresas com acionistas de referência, embora traga benefícios como maior apetite a risco, cultura organizacional forte e estabilidade de governança, expõe as companhias a um risco estrutural conhecido como key man risk. Nubank e BTG Pactual, duas das principais instituições financeiras da América Latina, abordaram o tema diretamente em análises recentes da Absoluto Partners, gestora que ouviu os principais líderes das duas organizações sobre suas estratégias para mitigação desse risco.
O BTG, liderado por André Esteves, adota o modelo de partnership para distribuir a liderança entre diversos sócios, reduzindo a dependência de um único indivíduo. O banco, que gerencia cerca de R$ 1,7 trilhão em ativos sob custódia e apresenta crescimento composto anual de 23% nos últimos cinco anos, estruturou um processo de sucessão que visa preservar sua estratégia independentemente de mudanças inesperadas. Esteves distingue dois tipos de impacto: a disrupção, que é mitigada com regras claras e governança sólida, e a perda de estamina, relacionada à energia que o líder fundador imprime na operação, considerada mais difícil de ser tratada.
O Nubank, com 92 milhões de clientes ativos e receita líquida de US$ 8 bilhões nos últimos 12 meses, também reconhece o desafio. David Vélez, CEO e fundador, destacou que o banco digital trabalha intensamente para espalhar promotores da cultura interna em todos os níveis da organização. Segundo ele, a força da cultura é o principal mecanismo de defesa contra perdas de identidade estratégica caso haja mudanças na liderança. Vélez enfatizou a existência de um plano de sucessão formalizado, com múltiplos nomes sendo preparados, priorizando sucessores internos para garantir continuidade na execução de longo prazo.
O setor financeiro, responsável por cerca de 15% do PIB brasileiro, é particularmente sensível à instabilidade gerada por mudanças de liderança em empresas-chave. Casos históricos mostram que a ausência de um plano de sucessão estruturado pode reduzir o valor de mercado em até 30% em poucos meses, além de provocar fuga de talentos e perda de credibilidade junto a investidores.
A discussão sobre key man risk cresce em relevância à medida que empresas de fundador continuam dominando as Bolsas americanas e brasileiras. Dados da McKinsey apontam que empresas fundadas e lideradas por empreendedores originais representam mais de 40% do valor de mercado do S&P 500. No Brasil, as companhias de dono correspondem a 65% dos IPOs realizados entre 2019 e 2023, evidenciando a necessidade de equilibrar influência estratégica e governança robusta para sustentar o crescimento no longo prazo.